31.1.06

Debaixo do Travesseiro

– Traição implica punição, adultério implica pagamento, corneamento implica cachaça. Lia nos jornais do compositor encontrado nadando com a amiga de seu caro amigo, nos livros os triângulos amorosos povoavam a lista de best-sellers. A traição é fato cotidiano, se lembra quando encontramos o vizinho morto com uma carta dizendo que a mulher, sempre ela a culpada, nunca a bebida ou a falta de ação, estava num motel com outro homem? As lindas morenas que passam na calçada da praia com modelitos curtos sempre têm maridos esperando em casa. Como disse o cantor, por trás de cada homem triste há uma mulher feliz, e atrás dessa mulher feliz há sempre mil homens tão gentis, foi isso, não foi? Já não lembro, quebrei o disco há alguns anos em uma noite de raiva – adivinhe o porquê –, guardo ainda os cacos em minha coleção. Não, pára de chorar, o povo ‘tá vendo, guarde as lágrimas para sua cama, amanhã é domingo, você não trabalha de domingo. Passe a noite chorando, mas aqui não. Ela não valia tanto assim, vá. Valia? Ela não fazia nem a comida, Genivaldo! Assumo que tinha um belo par de coxas... que cara é essa? Tem que se acostumar, a mulher já não é mais sua. Pára de chorar, já disse. Que isso, azar o dela, vai viver do mesmo jeito que você a encontrou, pobre e sem uma cova para cair. – “O carro está no nome dela, ela foi pra casa do outro com ele.“ – Ela não fez isso! – “Fez, Zé, fez.” – Mas que mulherzinha, rapaz! – Silêncio. – Nossa, olha a hora, minha mulher me espera. Sem choro, Valdo, sem choro. Vamos, vá comigo até minha casa, eu pago a conta. Jura que não quer jogar boliche? Deixa eu pegar o dinheiro da conta... Ué! Cadê minha carteira?
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Para o 15º Concurso Maldito.