8.3.09

Certas como são certas as cores que invadem o céu (todos os céus, não importa em qual você crê) também é certo como são certas as nove milhões de almas inquietas que tingem o alvorecer de abril sobre a marca da calma paciente de quem espera todo dia pela repetição do anterior e certo como é certo que esqueceremos nossos amores porque a vida se é que a vida exista e eu não creio que seja mais do que isso que vemos em nossos corpos e em nossa ânsia porque o amor se é que o amor existe é esse tom de azul que vai cobrindo meu corpo porque é certo que vou embora e é certo que deixarei para trás os que me amaram como é certo que me deixarei perder aqueles que amei porque as pessoas vão e voam como poeira nesses dias solitários em que o ápice de alegria é um copo e se conseguirmos ter sorte um corpo suado de mulher entre nossas coxas para voltarmos alegres para casa e nos sentirmos um pouco menos velhos um pouco mais fortes um pouco mais sinceros, porque tem jazz escrito no meu isqueiro vagabundo e tem jazz impresso nas suas coxas e tem jazz nos acordes da musica ao fundo e tem jazz escrito no céu da minha boca e tem jazz cravado em mim e tem jazz em cada linha de cada uma de suas cartas e é só jazz sibilante que entra pelos ouvidos que sangram e pelos pés que dançam e pelas mãos que tateiam no escuro ávidos pelas mãos da aurora, é só jazz que carrego comigo, e é cada um de vocês que levo aqui na palma da minha mão como uma bomba que coloco contra o peito para o que estrago me leve para uma espécie de dias melhores quando todos estavam próximos.

usuário b

descobri esses dias que alguns sites de relacionamento têm um dispositivo em que o usuário A pode ver o perfil
do usuário B, mas não pode se comunicar de nenhuma forma com o usuário B, apenas ver
o usuário B
e aí de repente comecei a imaginar que seria também
bastante interessante
se conhecermos a ideia de que às vezes algumas pessoas são como usuários B porque afinal você nunca
pode tocá-las de fato
apenas vislumbrá-
las
sob a
luz
de milhares de olhares já gastos
de centenas de holofotes de batidas do meu coração
e posso tentar buscá-las de barco

de barco

à

vela

mas é estupidez fazê-lo
estão perdidas de um modo tão ferrenho que nem posso usar metáforas de barcos se perdendo
porque existem muito menos barcos se perdendo do que pessoas
mas posso apenas fazer essa modesta metáfora,

o amor evoluiu:
chegou ao século XXI e agora atinge proporções virtuais
tanto em amor quanto em dor