19.11.07

jazzy discurso sobre a incubência de todos nós em nos fodermos dentro de uma garrafa de saquê

enquanto você se afoga em copos de cerveja e os bebe com voracidade até sentir algo gotejando em seu nariz nenhum deles pode te entender, mas eu consigo e com um gracejo tento formular mentalmente o porquê de tudo isso, as razões de estarmos aqui nesse bar em que adolescentes perdidos jogam sinuca em mesas verdes e mentes jovens mas velhas desperdiçam seu potencial batendo nas mesmas teclas de frustração, medo, mentira e ódio, apesar de talvez eu não ser capaz de saber a razão de estarmos todos rindo mesmo com todas essas feridas em nossas almas, esses lampejos de hipocrisia & falsidade que percorrem nossos corpos, o olhar para alguém que não podemos mais amar, o se sentir mal por as coisas não serem mais como eram.

sim, eu te entendo quando você apaga as luzes de seu quarto e então se enche de pavor com a idéia de que precisa dormir e até que isso aconteça você estará preso a si mesmo debaixo de cobertores, com murros de dor batucando em sua cabeça, com imagens repetitivas de cenas antes belas mas agora patológicas dançando diante dos seus olhos, essa dança da morte que você não consegue impedir, ter que ver todas as noites ela lhe dizendo o quanto te ama para logo depois pular alguns meses e vê-la declarando que não pode mais, que paixões acabam e provavelmente aquela foi só mais uma, não para você, para você foi o amor de sua vida, a resposta a todos os seus problemas em uma ligação de telefone em que você podia dizer: alô, eu te amo, vou me atrasar para nosso encontro, e ela antes diria calmamente: tudo bem, desde que você não me traia no meio do caminho e vocês riam disso, mas hoje você perdeu o número dela e ela apagou o seu entre botões cintilantes de uma máquina que nunca saberá o erro que cometeu.

sim, eu te entendo por você passar os dedos em livros que ela leu ou que tentou fazer com que ela lesse, revistas que ela lhe emprestou e até agora permanecem como mortas num canto de seu quarto - aquilo é um caixão que se abre todos os dias para mostrar a cadavérica face de si mesmo, o furacão que devasta seu corpo todos os dias, pois é só você acordar naquela cama e verá que tudo está como quando ela vinha lhe visitar, com a exceção talvez de ela não estar mais ali sentada na cadeira lhe dizendo que seus discos são realmente muito bons (o que com o tempo você descobriu não ser de todo verdade).

sim, eu te entendo ao pensar que os maços de cigarro em que ela lhe escrevia declarações de amor eterno foram jogados fora pela empregada, e você se lembra que agora ela nem mesmo fuma, todas as tragadas que deram juntos entre beijos eternos & quentes & molhados são humanamente impossíveis, pelo bem de sua saúde; mas não olhe ao espelho, não se choque ao encontrar um rosto muito mais branco que o que ela passava a mão, e não tente procurá-la nos rostos das outras, porque em breve vai perceber que, além de não conseguir encontrar, vai achar restos de remelas nas olheiras, vai ouvir coisas que não lhe agradarão mas apenas farão com que se lembre do fato de que ela nunca diria uma estupidez dessas, ela que é tão inteligente e tão mais bela com aqueles olhos verdes meio claros com tons de mel.

mas não vá embora agora, não antes de eu tentar lhe pagar uma bebida e dizer que todos nós passamos por isso, que é esse o inevitável ciclo de amores, não é? é isso que nos faz humanos, o sofrimento de dia após dia com o único objetivo final de nos tornarmos mais maduros e menos ingênuos, essa eterna jornada ao conhecimento supremo que parece sempre mais e mais distante - você nunca vai alcançá-lo completamente -. quando te acompanho nas calçadas e você pisa com força no chão, o mesmo chão sobre o qual estavam abraçados, procuro uma maneira de eu próprio não me sentir mal, experimento mentir para mim mesmo pensando que você está enganado, que o mundo é um lugar aconchegante e receptivo, que o amor é possível e perfeito, que vamos encontrar nossas almas gêmeas e nunca mais seremos suscetíveis a esses baques da vida. em vez disso, te deixo na porta da sua casa e volto para o bar, peço um chope e começo a me afogar e virá-los com rapidez até que eu sinta algo começando a escorrer pela minha narina esquerda...