12.3.06

De Rayuela a Bob Dylan



Me lembro do show do Pearl Jam. Uma garoa violentíssima que só deu descanso depois de uma hora, capas de chuva baratas que rasgavam com o vento, um primo e três pessoas completamente desconhecidas e, por fim, O Jogo da Amarelinha, de Julio Cortázar, escondido debaixo da cadeira da arquibancada. Fui lendo o livro, primeiro no ônibus apertado – estava sem dinheiro para o da Viação –, depois na casa da minha tia, depois no metrô e, por último, no show da banda que abriu o show (ô bandinha grunge de merda). Se há algum autor que me inspira muito, é o Cortázar. Prova disso é que, naquele dia, após ler sua obra-prima, ao invés de prestar atenção nas músicas desconhecidas, fiquei projetando um conto novo. Resultado? Meu filho predileto, Estranhos no Paraíso.

No final do ano passado, na praia de Guarujá, li em menos de um dia Memória de Minhas Putas Tristes. Por outro lado, estou com Todos os Fogos o Fogo há mais de três meses e ainda não li todos seus contos. Ele tem só 150 páginas. O mesmo aconteceu com o novo do Saramago, que gostei, mas não tanto, ou mesmo o primeiro estorvo do Chico, que ainda não tinha lido. Acho que li quatro livros nesse ano, e já estamos em março.

Descubram o prazer de se ler um livro. Mastigá-lo. Lê-lo em um mês, dois. Ler um capítulo de cinco páginas e ficar pensando nele o resto do dia, da aula de matemática ao banco do ônibus. Isso não se chama ler um livro, se chama viver um livro. Ri durante três semanas com as quatrocentas páginas de Cem Anos de Solidão. Demorei alguns dias mais com o pesadelo ditatorial de Orwell. Ou com o próprio sonho parisiense de Cortázar. Mas vivi cada uma de suas páginas, como vivo cada hora perdida de minha medíocre vida.

Ou isso ou esse discurso todo é só uma desculpa para minha falta de paciência.
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Atualização: comprovado, é só impaciência mesmo. Fui pra biblioteca, As Ondas me pareceu um saco, Proust estava meloso, Borges, um chato. Vamos ver se isso passa. Rezem por mim.

(Morrendo de vontade de ler as Crônicas do Bob Dylan.)
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Nova atualização: Comprei o volume 1 das Crônicas do Bob na Bienal do Livro. E Histórias de Cronópios e de Famas é um divisor de águas na literatura argentina.

3 Comentários:

Blogger Carmem Luisa disse...

Ler, ler, ler. Eterno vício.

1:04 PM, março 13, 2006  
Anonymous Anônimo disse...

Faço de suas as minhas palavras, maldito.

Pelo menos assim eu não vou ter nenhum erro de português.

11:53 AM, março 14, 2006  
Blogger Lara Spagnol disse...

É uma experiência fudida mesmo, a da leitura. Sabe. O cheiro das páginas, a textura, o mundo a sua volta morrendo aos poucos e até o você mesmo deixando de existir, prá lembrar que está vivo quando aquela frase, aquela ali, entra dentro de você como se nunca tivesse saído dali.
É trem de doido.

Mas também ando estranha. Mrs. Dalloway dança pelo meu quarto afora e eu inda num rompi as 50 primeiras páginas. Que passa, diacho?

Só uma dúvida acerca do post: Pearl jam é pearl jam mesmo? quando?

10:13 PM, março 16, 2006  

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