10.3.08

manifesto dos que esperam e sentem saudades



atb, 10.03.08


há algumas dez ou doze ou vinte e quatro horas ou um pouco mais eu estava longe fisica e principalmente mentalmente tão distante daqui, dessas teclas que se debatem silenciosamente, eu deitado ao lado da boca de uma estação de metrô que se abre na ponta da enorme calçada da maior avenida da américa do sul ou talvez da américa latina (talvez no méxico exista uma maior), ébrio com a cabeça esguichando vodca pelas orelhas e o coração engolindo longos goles da brisa gelada que me abria os olhos e me fazia abraçar quem estava ao meu lado enquanto sorria, sorria como não sorria desde muito muito tempo atrás, e num instante de inspiração amalucada comecei a recitar repentinamente poemas tão longos e tão doidos que jamais fariam sentido se fossem escritos ou lidos, só tiveram significado durante aqueles minutos em que o mundo cabia nos meus braços, no rapaz meu amigo que apoiava a cabeça sonolenta no meu ombro e na garota furacão agitadamente epilética que me passava a mão pelas costas; ali, minha maior busca era procurar um pouco mais de poesia derretendo pelos prédios enormes que nos circundavam - talvez o maior poema seja imaginar que o homem pôde construir tamanhos colossos -, abri os olhos e as estrelas me espiavam, eu na av. paulista mais iluminada de são paulo, e um edifício simétrico com janelas espelhadas me encarava com seriedade.

se me permitisse filosofar aqui seria suficientemente intelectual para os que querem ler e discutir literatura em restaurantes tomando café com chocolate, mas isso não seria espontâneo, prefiro descrever o final de semana, dizer o quanto eu bebi no gargalo - na jarra - toda a água do mundo, toda a vida do planeta, porque sexta-feira cantei canções de quarenta anos no meio do anfiteatro que estava abandonado às moscas (nem às moscas, estava frio, insetos não saem p'ra passear no frio, preferem ficar em suas tocas assistindo televisão), ninguém vai a esses lugares à noite, mas tive essa experiência com alguns dos melhores amigos que é possível encontrar no meio de toda essa gente, e meu prazer foi abraçá-los todos e pensar que ali estava eu, que eu conseguia me encontrar finalmente no meio daquelas respirações ofegantes (tínhamos corrido); no sábado ocorreu o já citado episódio na saída da estação de metrô entre outras coisas que em breve devem ser tratadas com mais cuidado - agüente só mais um ou dois parágrafos -, no domingo acordei ao lado do cara que me acompanhou na noite mais louca que é possível viver com menos de cinqüenta reais, noite cheia de doses de vodka tomadas de um gole só apenas por curtição, quando era aceitável sair correndo do restaurante que estávamos a uma da madrugada e ir ao show suburbano de rock na rua de cima, cantar beatles e punk rock com desconhecidos e uma banda ruim até alguém dizer você canta mal e me jogar fora do palco - com gentileza, devo acrescentar -, para depois voltar ao restaurante e encontrar velhos de sessenta anos que tocam violão e cantam (adivinhe) beatles, cantar com eles e depois de alguns goles de não sei o quê dizer o quanto a geração deles foi melhor que a minha, e por falar nisso agora me lembro que um deles me estendeu o dedo quando ia embora e disse com classe: você vai longe - não foi um elogio propriamente considerável levando em conta o nosso estado de sanidade no momento, mas ainda assim talvez seja profético, não que eu vá fazer sucesso e ser um ator famoso que foge de papparazzi, não, não isso, mas pode ser que ele estivesse tentando me dizer que nós todos iremos onde ninguém foi simples e exclusivamente porque é assim que tem que ser, deveríamos todos viver nossas vidas de maneira diferente das dos outros.

mas voltando ao ocorrido do sábado, na avenida: o motivo principal de minha iluminação fajuta momentânea não foi o álcool nem foram os cigarros, foi o fato de que eu falei com ela pelo celular, ela que foi o motivo de todo esse final de semana, que não pôde me encontrar e intencionalmente ou não fez com que eu fosse para a tal estação de metrô. falei com ela e entre pedidos de desculpa por não ter ido - foi a chuva, foi tudo isso, tentou me ligar e não conseguiu -, em algum momento as palavras escorreram da minha boca sem querer, eu te amo, eu te amo, e depois de uma eterna espera de uns dois segundos ela respondeu eu também, provavelmente não de todo sincero, foi uma resposta seguida de 'eu não sei o que dizer' mas não era preciso dizer mais nada, a língua portuguesa tinha me pregado uma peça e eu falei, falei sem querer, e diante da réplica dela, que poderia ter dito desculpe mas eu 'tô pouco me fodendo p'ro teu rabo, mas foi eu também, o êxtase me deu um tapa na cara e fez com que eu abrisse os olhos, como se deus me dissesse aí está, essa é a resposta para as perguntas que você fez nos últimos meses, vale a pena viver sim, só não espere demais da vida, aproveite os elogios e engula os insultos como se fossem açúcar, porque tu há de se lembrar deles daqui a alguns anos e isso vai te trazer memórias bonitas ou no mínimo saudosas.

6 Comentários:

Blogger billy shears disse...

mais que aprovado, gabo.
bem delirante e uno com o universo... e ainda assim bastante pessoal e individual.

curti pacas.

1:45 AM, março 10, 2008  
Anonymous Anônimo disse...

Dias delirantes estamos vivendo gabão...DIAS DE VERDADE.

São 6 e pouco da manhã e ainda é dificil acreditar em tudo que vivemos...não é alcool, não é cigarro...é a porra da vida injetada direto nas veias.

te amo irmão.

6:52 AM, março 10, 2008  
Blogger Carmem Luisa disse...

"porque sexta-feira cantei canções de quarenta anos no meio do anfiteatro que estava abandonado às moscas (nem às moscas, estava frio, insetos não saem p'ra passear no frio, preferem ficar em suas tocas assistindo televisão)"

UAUAHUAUAHUAUAHAUAHUAHUAHAUHAUHAUHA

PORRA, GABO

Se meu celular tivesse funcionado e eu conseguisse ligar p'ra você e avisar que ela não iria, nada disso iria acontecer. São umas coisas assim que me deixam tão...
Oin. Estou bo-ba.

Gabandini, você finalmente entendeu o que eu queria dizer há meses p'ra você. Vini tinha razão: você só iria mudar se arranjasse uma garota fodona. E mudou, está mudando, é uma metamorfose contínua e cruel, sempre, sempre.

É por isso que eu sou muito grata em ser sua melhor amiga.
Tchamo, demais. Até o fim.

8:47 AM, março 10, 2008  
Blogger Marcela disse...

Este comentário foi removido pelo autor.

1:30 PM, março 10, 2008  
Blogger Marcela disse...

a Carmem sabe levantar a auto-estima de uma pessoa; me fez mais feliz, assim como seu telefonema.

muah

1:33 PM, março 10, 2008  
Anonymous Anônimo disse...

seu apelido devia ser kerouac
beatzinho

9:26 PM, março 10, 2008  

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